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Aspectos históricos do Parque Estadual Intervales

A ocupação da área que compõe Parque Estadual Intervales remonta ao século XVI, quando jesuítas e índios buscavam estabelecer rotas entre o planalto e o litoral. Também consta que houve mineração de ouro nesta época, porém não há documentação a respeito. No início do século XX foi iniciada a ocupação de terras devolutas por grileiros e posseiros.

História: Texto

RECORTE DO CAPÍTULO 1 DO PLANO DE MANEJO DO PEI

1. INTRODUÇÃO, DENTRO DO CADERNO 1

As referências bibliográficas podem ser acessadas no site da FF

1.5.HISTÓRICO DO PARQUE ESTADUAL INTERVALES

O Parque Estadual Intervales foi a última grande área com remanescente de Mata Atlântica declarada de proteção integral no Estado de São Paulo, embora, a rigor, sua conservação estivesse assegurada desde a aquisição da Fazenda Intervales em 1987[1], pela Fundação Florestal.

À época de sua criação (1995) era Governador do Estado, Mário Covas e Secretário de Meio Ambiente, Fábio Feldmann. O Presidente e Diretor Executivo da Fundação eram Edis Milaré e José Fernando Bruno, respectivamente.

- A configuração da ocupação da Intervales, a história da “Fazenda do Banco”

A configuração da ocupação do que é hoje o Parque remonta à própria história da ocupação da área pelo Banco Banespa, especialmente nas décadas de 1970/1980.

Nos trechos a seguir, extraídos e adaptados de artigos e documentos históricos, resgatamos um pouco desse percurso.

Na década de 1950, o Banco do Estado de São Paulo – Banespa recebe mais de dez mil ha da gleba conhecida como “Usucapião Giani”, de propriedade da Companhia de Incremento Rural do Altiplano Paulista (CIRAP). Segundo Castanho Filho (apud Marinho, 2006)[2], a CIRAP instalou-se na região com o objetivo de implantar projeto agropecuário, porém foi mal sucedido. Essa incorporação ao patrimônio do Banco é que dá início à formação da Fazenda Intervales.


Segundo Marinho (2006)[3], estas informações são confirmadas por um dos vigias do Parque, atuante desde a época do Banespa no programa de proteção:

“A Altiplano Paulista fez um empréstimo no banco, montou uma serraria e uma olaria de 49 a 56. Aí eles não conseguiram pagar e perderam as terras para o banco (depoimento de vigia do Parque, 2006)”

Em 1960, com a anexação, por outorga de título de domínio público, da gleba do 18º perímetro de Eldorado, acrescentam-se mais nove mil ha ao imóvel rural. Sucessivamente, vai sendo anexada a esse núcleo uma série de propriedades e posses, entre as quais destacam-se a “Palmital” com dez mil ha e a “Oriente”, objeto de usucapião, com 1,5 mil ha. Ao todo, 28 glebas distintas somaram os cerca de 38.400 hectares da Fazenda Intervales que, em 1987, são transferidas do Banespa à Fundação Florestal.

O acesso à Sede da Fazenda, então denominada Fazenda Oriente, era feito apenas de transporte por animais. Com o patrocínio do Banespa, foi construída a estrada municipal que liga Ribeirão Grande a Guapiara, passando por dentro da área da sede. As “duas estradas de penetração” no interior do parque – até a região do Vale do Rio São Pedro e região do Alecrim – que dão acesso ao Vale do Ribeira, também foram construídas pelo Banespa.

Nessa época, o Banespa encomenda ao Instituto de Planejamento Agrícola Regional – Fundação Thomaz Alberto Whately, estudos para determinação das potencialidades da Fazenda. O documento entregue, denominado “Relatório dos estudos elaborados na área da Fazenda Oriente para determinação das possibilidades de exploração agrícola e mineral” (junho de 1967) propõe três projetos: mineração, reflorestamento e colonização, este último no contexto de impulsionar o desenvolvimento da região. Como se pode ver sem nenhum objetivo de conservação e sim de uso econômico convencional da terra.

Embora estivesse ressaltado, no relatório apresentado, a necessidade de aprofundamento de estudos específicos para cada projeto, suas conclusões indicaram “em uma análise primeira” que “a operação extrativista (madeira, calcário) é a mais recomendável, pois as condições adversas do meio físico reservam à agricultura somente 16,7% da área” e continua: “é rica em essências florestais, com inumeráveis espécies e variedades, o que vale concluir que a exploração deste potencial vegetal já é economicamente viável”.

Quanto ao potencial mineral, registra o relatório: “O Vale do Ribeira vem sendo citado como região de vastos recursos minerais em potencial, porém ainda não suficientemente desenvolvidos, sobretudo a parte norte do Vale, nos contrafortes da Serra de Paranapiacaba. Essa região menos conhecida do Vale do Ribeira é justamente onde se localizam as terras do Banespa”. E conclui que “são reais as possibilidades de existência, nas terras do Banespa, de minérios diversos de chumbo, prata, ouro, zinco, cobre, etc., já encontrados nos diversos pontos da região próxima (...)”. Finalmente, é contundente: “O que pode e deve ser sujeito à exploração imediata, é o calcário que, como já foi dito, representa uma realidade conhecida”.

Assim, é na década de 1970, que as sucessivas gestões do Banespa iniciaram a implementação dos projetos preconizados no relatório com o objetivo de promover a ocupação da área, o que consolidou a atual configuração da ocupação do Parque. Comenta Castanho Filho (op. Cit.) que, nessa época, desenvolveu-se uma série de programas e projetos governamentais para o Vale do Ribeira, a partir de uma estratégia que propugnava a “interiorização do desenvolvimento” e que talvez essa tivesse sido a forma encontrada de contribuir para o controle da guerrilha, comandada pelo Capitão do Exército Carlos Lamarca, que ameaçava instalar-se na região.

Nessa época, o Banespa utilizou os serviços da coligada CIGEBRAS S/A Mineração, Indústria e Comércio[4] para administrar e fomentar a ocupação da área. Conforme poderá ser visto na Figura 2,  previa-se a implantação de um loteamento “nas terras do BANESPA” com “lotes urbanos, chácaras, sítios e até mesmo fazendinhas”.

No início dessa década, sob a direção de Reinaldo Saldanha da Gama e Paul Brandt, foram então erguidas as edificações e a infra-estrutura viária, com certeza entendidas como fundamentais para o início da ocupação. Datam dessa época, o escritório, a capela de Santo Inácio de Loyola (estátua doada pelo Colégio São Luís em 27 de setembro de 1972, conforme Figura 3), as sedes 1 e 2[5], o início das obras do hospital[6], o heliponto e o traçado da rede viária que circunda toda a área da Sede, e que vai da sede até a Base São Pedro[7].

Em paralelo, é iniciada a extração de ouro de uma antiga mina abandonada. Desta mina, localizada na Serra do Cavalo Magro, com acesso pela região do Saibadela, foram retirados em lombo de burro cerca de seis toneladas do minério, encaminhadas ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para análise, cujo resultado indicou que, apesar de ser um minério com alto teor de ouro (43g/t), sua extração era antieconômica.

Para transtorno dos então gestores, também segundo Castanho Filho (op.cit.), tão logo foi paralisada a exploração, a mina foi invadida por aventureiros e “só pôde ser retomada mediante verdadeira operação de guerra, com policiais armados de metralhadoras, que tiveram acesso ao acampamento por intermédio de helicópteros” (Castanho Filho, op cit.).

De 1976 a 1982[8], a direção esteve sob a égide do engenheiro agrimensor Maurício Aquino[9], cuja gestão enfatizou a implementação de atividades geradoras de receita, já que os custos de manutenção da Fazenda eram considerados muito altos.

Foram iniciadas, então, duas frentes de exploração: do calcário e do palmito juçara.

A Vila do Monte Rosa[10] foi construída nesse período, bem como a instalação de rede elétrica, a abertura de trilhas e estradas e a montagem da fábrica de blocos. A população residente chegou a mais de 300 pessoas, todas envolvidas nas atividades implementadas e pagas pelo Banco Banespa, e que deveriam povoar a “Vila”.

A pedreira de exploração do calcário forneceu material apenas para o cascalhamento dos 300 km de estradas existentes à época e alimentou a fábrica de blocos por curto período de tempo, até ser desativada pela Fundação Florestal, à época da aquisição da Fazenda.

Quanto à exploração do palmito, a proposta foi elaborada com o concurso da Companhia Agrícola Imobiliária e Colonizadora (CAIC) e o projeto, favorecido pela existência da lei dos incentivos fiscais, foi oficializado junto ao então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), sob nº 1491/76, para uma área de 2.500ha.

Para o plantio foi feito o seguinte: um sobrevôo de helicóptero para localizar as regiões onde existisse maior densidade de palmiteiros; esses locais eram alcançados através da abertura de caminhos na mata e, por essas trilhas, eram feitos a exploração do palmito existente e o plantio de mudas, de metro em metro.

Nesse processo, foram plantadas mais de 12,5 milhões de mudas, que através de amostragem numa avaliação posterior, foi verificado que 67% delas “vingaram”. Esse resultado foi considerado satisfatório, em face dos problemas enfrentados, principalmente um ataque de ratos atraídos pela frutificação da taquara [11].

Mais tarde, sem incentivos fiscais, foram executados os repovoamentos de palmiteiros através de sobrevôo de helicóptero com lanço de sementes, antecipando uma técnica que seria utilizada anos mais tarde na Serra do Mar, em Cubatão no projeto de recuperação de áreas degradadas por deslizamentos de encosta.

Participou deste projeto o Dr. Cyro Braga, à época vinculado à CAIC, precursora da CODASP, e que mais tarde viria a ser contratado como administrador geral da Fazenda sob a direção da Fundação Florestal.

Em paralelo, para garantir a integridade física do imóvel, iniciou-se também um programa de vigilância, com uma base na região da Sede e outra no Funil. Em seguida, foi implantado o sistema de “vigilantes-moradores” nos pontos mais afastados da Fazenda, o qual foi o embrião do sistema de fiscalização implantado posteriormente pela Fundação Florestal.

No início da década de 80, com o objetivo de agregar maior valor ao produto (palmito) e, conseqüentemente, aumentar a receita, é implantada uma fábrica na área da Sede. Com início de operação em 1983, produziu durante quase dois anos, entre 10 e 15 mil latas de 500g por mês. No início, essa produção era vendida por meio de licitações e o vencedor fornecia as latas e os rótulos.

Em meados da década de 1980, os sucessores de Aquino, engenheiros agrônomos Ayres Alves Monteiro Filho e Paulo Américo Prestes Barra adotaram uma nova filosofia de gerenciamento da Fazenda: buscaram valorizar a área da Sede, através da reforma e conclusão de seus inúmeros edifícios, com a idéia de transformá-la numa opção de lazer para os funcionários do Banco. Assim, foi concluída a sede e reformada a piscina. Da mesma forma, as obras do hospital deram lugar à hospedaria e foi construída a cantina/refeitório, hoje Restaurante.

Ao mesmo tempo, não paralisaram as atividades da fábrica de palmito, que até ganhou marca própria – Intervales – durante essa gestão. No entanto, promoveram uma paulatina redução na produção mensal, sendo comercializada somente aos funcionários do Banespa, até a desativação total da fábrica em 1986.

O posto de saúde, a escola e o centro de convivência infantil foram projetos desenvolvidos nesse período, em atendimento às necessidades da comunidade local e perduraram até meados da década de 1990.


Processo de Aquisição da Fazenda Intervales[12]

O processo de aquisição da Fazenda Intervales requereu uma série de ações para sua regularização, que acabaram retardando o início efetivo das ações por parte da Fundação.

Apenas o imóvel e as benfeitorias eram do Banco do Estado. Os veículos, materiais, móveis, utensílios, equipamentos da fábrica, mina de calcário e também, o quadro de funcionários eram da Banespa Mineração, o que exigiu uma longa negociação, carregada de interrupções, já que essa empresa foi transformada na Paulistur, que posteriormente também encerrou suas atividades.

Com relação ao quadro de funcionários, as negociações foram bem sucedidas e, em julho de 1987, foram incorporados ao quadro da Fundação Florestal cerca de 65 funcionários oriundos da Banespa Mineração/Paulistur, todos bastante interessados na nova proposta conservacionista, porém sem nenhuma experiência nesse novo tipo de trabalho.

O mesmo não ocorreu com os materiais e equipamentos. Para regularizar a situação com a Banespa Mineração, foi preciso leiloá-los, o que deixou a Fazenda quase sem condições para um mínimo de atividades. Para agravar a situação, a Fundação Florestal dispunha de pequena verba orçamentária, por ser entidade recém-criada e sem histórico administrativo.

Por outro lado, a infra-estrutura existente na Intervales era excelente e o corpo de funcionários absorvido pela nova administração era suficiente, apesar da necessidade de treinamento para ajustar-se à nova filosofia de trabalho. A par disso, a situação fundiária do imóvel era regular, o que tranqüilizava quanto a proposições com horizonte mais longínquo.

Vale ressaltar que a integração na nova proposta voltada a conservação foi bem sucedida, pois dos 48 funcionários, atualmente trabalhando em Intervales, apenas quatro não são deste período.

Esses funcionários, nativos da região e cuja atividade originária, na época do Banco, era ligada em sua maioria a trabalhos braçais ou de exploração de palmito e minério, treinados logo de início pela equipe da Fundação para as novas atividades, adaptaram-se e especializaram-se em tal medida ao longo destes 17 anos que, atualmente, reúnem conhecimentos singulares e são o grande diferencial do Parque.

A equipe de monitores ambientais possui grande familiaridade com a geografia e a espeleologia, como também das espécies de fauna e flora locais. A convivência com pesquisadores em suas atividades de campo proporcionou a aquisição de conhecimentos específicos e, em alguns casos, até especialização. Não é raro encontrar entre eles, aqueles que identificam espécies de fauna e flora por seus nomes científicos, espeleotemas e suas variedades e os que dão verdadeiras aulas de conservação e respeito ao meio ambiente. São capacitados em socorrismo e, atualmente, também em manejo de trilhas.

A equipe de proteção possui elevado conhecimento de todo o Parque, seus limites, acessos internos, pontos críticos, populações vizinhas, dentre outros. Entre eles, destacam-se os líderes, fundamentais em face da natureza desta atividade, já que há necessidade de pronta tomada de decisão diante das ocorrências de infração ambiental; de permanecer longos períodos em trabalho de campo (turno semanal) e balizar a postura da equipe em situações de risco.

As equipes da recepção, governança, manutenção geral, manutenção de estradas, marcenaria, frota, são merecedores de destaque. Todos da equipe de Intervales exercem a atividade com notada paixão, experiência, seriedade e responsabilidade.

PGA – Plano de Gestão Ambiental


A equipe técnica da Fundação Florestal trabalhou arduamente durante três anos para a elaboração do Plano de Gestão Ambiental, aprovado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado, através da Resolução SMA nº 28, e publicado no DOE em 27/3/98.

Em 1995, a Resolução da Secretaria do Meio Ambiente nº 38/95, de 24 de agosto, instituiu um grupo trabalho com atribuição de elaborar a proposição de um plano de gestão do Parque Estadual Intervales.

A equipe técnica da Fundação Florestal em conjunto com técnicos de outros órgãos da Secretaria do Meio Ambiente, representantes da sociedade civil, cientistas das principais universidades paulistas, agentes dos municípios da região, representantes de Secretarias do Estado, ONGs, moradores das comunidades quilombolas, agências de turismo ambiental e até empresários do setor de mineração, trabalharam arduamente para a elaboração daquele Plano.

Para a sua elaboração, várias etapas foram vivenciadas, sendo a primeira, o levantamento inicial das informações existentes. Esse levantamento resultou em uma reunião no dia 28 de fevereiro de 1996, onde foi apresentada a “Proposição do programa de trabalho para o Plano de Gestão Emergencial do PE Intervales”.

Esta reunião propôs o recolhimento de informações técnicas, divididos por temas: mapa base, ambiente físico, fauna, vegetação, integração com as unidades de conservação vizinhas, entorno regional, balanço das atividades no PEI e legislação.

Nos dias 30 e 31 de maio do mesmo ano, foi realizado o I Seminário: “Resultados parciais do Plano de Gestão Emergencial do Parque Estadual Intervales”, que consolidou os trabalhos dos diversos grupos e promoveu uma visão global de todo o plano por parte dos colaboradores.

O II Seminário “Propostas e encaminhamentos para o PE Intervales”, realizado de 19 a 21 de outubro de 1996, teve como objetivos: maior envolvimento de colaboradores na discussão de propostas e encaminhamentos para o parque, devido a diversidade representativa dos diferentes segmentos da sociedade; obtenção de propostas e encaminhamentos para os principais conflitos do parque (mineração, palmito e regularização fundiária); obtenção de propostas e encaminhamentos para os principais programas de ação do parque (administração, visitação pública, vigilância, pesquisa científica e integração regional). Conseguindo assim uma maior participação das prefeituras, comunidades, empresários, da mídia, enfim de um espectro mais amplo da sociedade.

Então um relatório desse seminário foi elaborado e distribuído para todos os participantes, que revisaram e ajustaram o texto. O plano final revisado foi apresentado em uma reunião de aprovação que contou com a presença de todos os participantes e de autoridades da SMA, inclusive com o próprio secretário do meio ambiente na época, o Deputado Federal Fábio Feldmann.

O Plano de Gestão Ambiental do Parque Estadual Intervales – Fase 1, foi então aprovado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado, através da Resolução SMA nº 28 e publicado no Diário Oficial do Estado em 27/3/98.


Parcerias[13]


Desde sua constituição, Intervales buscou alicerçar parcerias com outros órgãos e instâncias do Poder Público e com a sociedade civil (com particular ênfase nas comunidades e residentes circundantes) tanto para o fomento de ações de desenvolvimento sustentável em sua Zona de Amortecimento, enquanto estratégia de preservação ambiental, como também para sua própria gestão.

Dentro desta perspectiva e também frente a um quadro de escassez de recursos, a alternativa adotada para viabilizar ações de ordem técnica, financeira e gerencial na recém implantada Unidade de Conservação foi a ação conjunta de cinco instituições: a Fundação Florestal, a Prefeitura Municipal de Ribeirão Grande, a Cooperativa de Serviços Múltiplos de Ribeirão Grande/Intervales (Coopervales), o Serviço Nacional do Comércio – SENAC/Cecatel e a Secretaria do Emprego e das Relações do Trabalho.

Entre outros aspectos, essa ação consubstanciava-se num projeto piloto de operacionalização de serviços de hotelaria e hospedagem na Unidade de Conservação através de parcerias institucionais, sendo que às duas últimas instituições mencionadas coube a capacitação e qualificação de mão-de-obra para o desempenho das atividades.

A primeira parceria firmada contou com a participação da cooperativa (Coopervales), especialmente porque foi fundada por ex-funcionários da até então Fazenda. O quadro associativo era composto por antigos trabalhadores da antiga propriedade, residentes em seus limites ou entorno; trabalhadores com fortes vínculos históricos e culturais com o território e profundos conhecedores da região.

Nesse sentido, é necessário registrar que, quando da aquisição da Fazenda Intervales, não foi possível à Fundação Florestal absorver todos os trabalhadores que nela atuavam; apenas 65 funcionários oriundos da Banespa Mineração/Paulistur foram incorporados aos quadros, não sendo incluídas as mulheres dos funcionários que trabalhavam na cozinha e parte do corpo de vigilância.

Num primeiro momento, a solução encontrada foi a absorção desse grupo extra de trabalhadores para a condução das novas atividades através da FUNDEPAG[13], no entanto, com a extinção da parceria com essa Fundação na primeira gestão do Governo Mário Covas, o problema persistiu.

A criação da Coopervales, em 9 de julho de 1995, veio solucionar essa questão em consonância à filosofia da Fundação Florestal na gestão de Intervales: a conjugação da sustentabilidade na administração da Unidade de Conservação, bem como no ordenamento da atividade turística com a geração de trabalho e renda para a comunidade local.

Em 27 de março de 1996 foi firmado Termo de Cooperação Técnica entre a Fundação Florestal, gestora do Parque, e a Prefeitura do Município de Ribeirão Grande, no qual se situa a sede administrativa da Unidade de Conservação e do qual os trabalhadores em foco são munícipes, para fins de operacionalização dos serviços de hotelaria e ecoturismo da U.C.

Ato contínuo, por meio de Convênio firmado em 01 de maio de 1996 entre a Prefeitura Municipal de Ribeirão Grande e a Coopervales, obrigava-se esta última a disponibilizar mão-de-obra especializada para a realização de trabalhos e atividades de suporte à manutenção e conservação do Parque Estadual Intervales nas áreas de Ecoturismo, Manutenção e Vigilância, com base na Lei Municipal nº. 113, de 25 de setembro de 1995.

Assim, por força do referido Convênio, os serviços de apoio a atividades de ecoturismo no Parque Intervales (monitoria ambiental) bem como os correspondentes ao restaurante, estes últimos  autorizados pela Lei Municipal 136, de 16 de abril de 1996, passaram a ser desenvolvidos pela Coopervales.

Além da significativa economia de recursos, tanto ao erário estadual como ao municipal, posto tratar-se de instituição sem fins lucrativos, o sistema adotado, com a participação da Coopervales na gestão parcial de serviços do Parque Estadual Intervales, constitui-se em exitosa experiência, seja pelo diferencial de qualidade das atividades desenvolvidas, seja pela efetiva inclusão social de residentes do entorno em atividades sustentáveis de geração de renda.

Em termos de monitoramento, tanto da qualidade dos serviços quanto da eficiência econômica da gestão, o modelo também apresentava o diferencial da constante avaliação e acompanhamento por parte de duas diferentes instâncias governamentais, diretamente interessadas na eficácia das atividades e seus resultados; a Fundação Florestal, por ser sua responsabilidade direta a administração da Unidade de Conservação, e a Municipalidade, pelas obrigações estabelecidas no Termo de Cooperação Técnica do qual era signatária.

Em termos financeiros, a economia de recursos públicos no período foi comprovada, uma vez que, no bojo do Programa de Visitação Pública e Ecoturismo do Parque Intervales, a partir de 2001 foi instituída licitação pública para os serviços de seu restaurante, nos termos da Lei Federal nº. 8.666, de 21 de junho de 1993, e este continua sendo administrado até hoje pela Coopervales, posto que nenhum outro concorrente, nos certames que se sucedem, consegue oferecer proposta com preços inferiores aos praticados pela cooperativa.

Pode-se dizer que a parceria entre o Parque Estadual Intervales e a Coopervales foi um marco no sentido de ser a primeira firmada dentro de uma filosofia ampla de integração da U.C. com as comunidades de seu entorno e da promoção do desenvolvimento regional com geração de renda a partir de práticas sustentáveis; continua sendo um marco no sentido de constituir-se em experiência exitosa que se aprimora e permanece em benefício recíproco - tanto do Parque como da população residente.

O Conselho Consultivo

Em 2002, é constituído o Conselho Consultivo de Apoio à Gestão, em cumprimento ao que dispôs a Lei nº 9985/2000, que instituiu o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Sua formalização com Estatuto aprovado se dá em 2004, através da Portaria FF nº 001/2004.

O Conselho, formado por 24 membros titulares e igual número de suplentes, entre órgãos públicos, organizações não governamentais, associações de bairros e segmentos empresariais. É o principal fórum de gestão participativa do Parque, e tem se mostrado um excelente parceiro da unidade nas atividades de gestão.

Atualmente, o Parque Estadual Intervales pode ser considerado consolidado e sua gestão é realizada por meio de cinco programas: Administração, Uso Público, Interação Socioambiental, Pesquisa e Proteção, que através do processo participativo deste Plano de Manejo foram reformulados e tiveram suas estratégias, objetivos e ações revistos e ampliados.

[1] FUNDAÇÃO FLORESTAL, C. Leonel (Org). Intervales. São Paulo. 1994

[2] Castanho Filho in Marinho, M.A. “Conflitos e possíveis diálogos entre Unidades de Conservação e populações camponesas: uma análise do Parque Estadual Intervales e o bairro do Guapiruvu (Vale do Ribeira/SP). Dissertação de Mestrado. São Paulo, 2006.

[3]Marinho, M.A., op.cit.

[4] precursora da BANESPA S/A Mineração e Empreendimentos.

[5] Atualmente, Pousadas Pica-Pau e Esquilo respectivamente.

[6] Que mais tarde, ainda na gestão do Banespa, se transformaria em hospedaria, hoje Pousada Onça Pintada.

[7] Em 1972, os padres Paulo Pedreira de Freitas e Hélio Abranches Viotti entregam ao Banespa, para padroeiro, a imagem de Santo Inácio de Loiola, do ano de 1570, e que permanece até hoje na Capela, no interior do Parque.

[8] Nessa ocasião, o BANESPA utilizava os serviços de uma coligada - CIGEBRAS S/A Mineração, Indústria e Comércio - para administrar a Fazenda, pois, como banco, estava impedido de fazê-lo. Esta empresa foi a precursora da BANESPA S/A Mineração e Empreendimentos.

[9] Aquino já conhecia bem a propriedade, pois, como perito do Banco, havia ajudado o advogado da instituição, José Garcia, a regularizar o domínio dos inúmeros imóveis que a compunham.

[10] Desde aquela época, até os dias atuais, a Vila do Monte Rosa, agrega as residências dos funcionários.

[11] As taquaras de modo geral apresentam ciclos longos de desenvolvimento. Assim, na época de frutificação enormes quantidades de sementes são liberadas, atraindo grandes quantidades de roedores - fenômeno conhecido como “ratada”.

[12] Adaptado de “A vocação conservacionista de Intervales” op.cit e do Relatório de “Evolução e Avaliação – Programa de Inauguração” (documento interno)

[13] FUNDEPAG – Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio – instituição de direito privado, fundada em 24 de outubro de 1978, com objetivo de, entre outros, colaborar em programas de desenvolvimento estabelecidos pelos governos federal, estaduais e municipais

História: Texto

Figura 1. Rótulo do Palmito Intervales

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Figura 2. Anúncio da CIGEBRÁS – “loteamento planejado nas terras do BANESPA”

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Figura 3. Ata de entrega ao Banespa da estátua de Santo Inácio

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