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Nossa viagem à Intervales: Umberto e Sulita

Umberto Cavalheiro

Minha esposa e eu visitamos Intervales em julho de 2019, em meio ao roteiro pelas cavernas. Elaborou um relato sobre a viagem, que foi muito significativa em nossa vida.


Quero já destacar que os funcionários deste Parque são de uma riqueza humana, imensuráveis. Quero destacar alguns nomes: funcionários do parque que foram tão preciosos para o nosso acolhimento e nos deram sugestões fundamentais que enriqueceram as nossas atividades. São eles: - Administração: Eliseu, Mara e Zarife. - Amaral, Betinho, Gerson, Faustino, Eliana e Alejandro. Alguns deles são funcionários e trabalham como guias e outros são apenas guias, mas todos são muito bem preparados para realizar trilhas avançadas.


E deixo um depoimento sobre a guia Eliana que nos proporcionou tantos ensinamentos. Podem usar parte deste depoimento, que acharem adequado, pois não quero expô-la. Mas tive uma conversa com ela que marcou a minha passagem por Intervales.


No primeiro dia de atividade com a guia Eliana, ela falou um pouco de sua vida, enquanto ia nos orientando pelas trilhas da Mata Atlântica. Falou que trabalhou na roça desde criança e aprendeu a manusear o facão logo cedo. Sempre gostou de entrar na floresta. Se sente conectada com algo maior. Uma percepção bem similar da minha, apesar de sermos de “mundos” diferentes. Eu, com modo de vida metropolitano e ela, com um modo de vida rural. Fiquei impressionado com os conhecimentos que ela adquiriu ao longo dos anos, mas contraditoriamente, não era essa a sua perspectiva. Ela nos disse que queria que a sua filha Ana Paula estudasse para não ser como ela. Aí perguntei: - O que é ser como você? - (Eliana): assim, sem cultura, sem sabedoria, sem falar direito. Não pude estudar, quando criança. O pouco que aprendi foi com o manejo na floresta e com os pesquisadores que acompanhei nas trilhas e me ensinaram muita coisa. Espantado com a sua resposta, argumentei: - Mas você é uma sábia, Eliana! Tem um conhecimento profundo sobre a floresta, uma consciência ambiental ampla e está nos ensinando muito. Esta sua sabedoria é como se tivesse feito uma faculdade. A faculdade da vida, do manejo da floresta. Tenho certeza que estes pesquisadores também aprenderam muito com você. Houve um compartilhamento de conhecimento. Neste momento, ela sorriu e acenou que sim, com a cabeça. Ela confirmou que guia os biólogos por trilhas nas matas e cavernas e indica a eles onde encontrar o que precisam. Muitos têm o conhecimento teórico, mas sentem dificuldade de reconhecer certos fenômenos na prática. Depois ainda complementei: - E você não fala errado. Você fala o português brasileiro. Muitos linguistas afirmam que esta deveria ser a nossa forma oficial de falar. Uma fusão do português original, com idiomas indígenas e dos negros africanos. Esta forma de falar foi considerada errônea, ainda no Império para diferenciar as elites, das classes mais populares. Naquele momento, ela ficou em silêncio e imaginei que não tinha se convencido muito de minha fala. Porém, no dia seguinte ao conversar com a sua filha, argumentou: - (Eliana): sabe filha. É como o Umberto me falou ontem. Eu também tenho conhecimento. É o conhecimento da vida, da floresta. E ele disse que pode até ser comparado a uma faculdade. Eu compartilho conhecimentos com as pessoas mais estudadas. Naquele momento percebi que ela havia tomado a consciência de seu saber e me deu uma sensação de satisfação ao imaginar que tenha contribuído para que ela chegasse a esta conclusão.

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