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Vai ou não vai

Kátia Pisciotta

Era outubro de 1991.

Dormíamos em barracas, muitas vezes deixando as roupas molhadas para o lado de fora, vestindo-as na manhã seguinte.

Estávamos muito felizes com as descobertas e tudo o que víamos e conversávamos e aprendíamos, mas um pouco cansados, já haviam se passado muitos dias de mochilas nas costas, com roupas, equipamentos e mantimentos.

Caminhávamos e caminhando, juntos chegamos às margens do Rio São Pedro.

Lindo, sinuoso e largo.

No passado teria havido uma ponte, para uma travessia segura, até com um automóvel, talvez. Mas naquele momento havia apenas seu esqueleto, com os mourões de margem a margem, onde grandes pregos permaneciam, tendo sido perdidas as tábuas que um dia compuseram o piso da ponte. Para atravessar era preciso ir colocando um pé de cada vez, com a exigência de grande equilíbrio.

Foram passando todos, em fila indiana, chegando ilesos ao outro lado do rio, apesar dos pregos pontiagudos.

Chegou a minha vez..... era tão alto.... o rio corria caudaloso....

“Venha! Venha!”  -  gritavam na outra margem.

E eu ia, mas não ia. Coloca um pé e tirava, antes de colocar o outro.

E pensava, “tenho que ir.... !!!”

E fui.

Mas minhas pernas não concordaram comigo e começaram a tremer, mas tanto e tanto e tanto que todos gritaram: “Não venha!!! Não venha!!!!”

Um dos amigos que havia ficado comigo, para fechar a fila, resolveu me salvar, propondo que atravessássemos por baixo, por dentro do rio.

E lá fomos.... mochilas na cabeça, água na cintura, até que, já perto da saída, uma das mochilas caiu dentro d’água e abriu.... e lá fui eu correndo pra pegar as roupas..... pegamos.....

Tem dia que parece que a gente não devia sair da barraca.....

(Viagem de reconhecimento científico a algumas áreas desconhecidas da Fazenda Intervales, estado de São Paulo, durante o período de 04 a 16 de outubro de 1991.)

Vai ou não vai: Bem-vindo
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